Pensei sem querer… e fiquei viciado.

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Categoria: Para.

qualquer-feira

by beatnthink

É tão simples, óbvio e prático –
dois corpos que se amam não ocupam o mesmo espaço
mas ocupam a mesma cama,

Que quando tá longe,
parece que leva consigo uma parte de mim,
moreno.

Fragmentos de quatro dias entre acordes ao pé do ouvido e o toque de pele.

by beatnthink

“Quando o telefone tocou pela segunda vez ele estava tentando lembrar se o nome daquela melodia meio arranhada e lentíssima que vinha da outra sala seria mesmo “Desespero agradável” ou “Por um desespero agradável”. De qualquer forma, pensou, desespero. E agradável.”
Caio Fernando Abreu

Um furacão doído no meio do peito que se misturava com a falta de ar e dava um nó. Um nó espinhento, alheio ao existencialismo falido, que quase se tornava o impossibilitador de notas de rodapés em guardanapos, textos em cadernos, arte. E ao mesmo tempo, confusamente, um sentimento belíssimo.
Era desesperador, bem sabia. Mas o desespero não precisava ser desagradável. Na verdade, diabos!, era um desespero musical, um desespero doce. Um desespero vivo, que por ser vivo, encontrava-se necessitado de ar, de alimento, de voz.
An-fe-ta-mi-nas.

Anfetaminas não, um café forte.
Um café forte e um apego saudável.
E sempre vivo.
Sempre.

trilhos de trem

by beatnthink

Para todos os que  souberam partir.
Para os que precisam aprender.

Cheguei nesse ponto da linha do trem, onde eu preciso atravessar, ou voltar todo o caminho. É aquele ponto em que não dá pra ficar simplesmente parado, vendo os trens passando devagar, sentado no banco da estação fumando mais um cigarro, e depois mais um… e depois de um maço, outro. Eu fumaria minha vida inteira em uma estação de trem, caso fosse possível.
Mas é muito mais complicado do que parece, senhores. Dá uma puta medo desenfreado e quase irônico, quase como o barulho do trem ‘tss tsss tss há’ que ri da sua cara e te xinga de cagão medroso ‘seja homem seu filhadaputa’; e piora quando voltar atrás dói pra caralho, de uma dor sobrehumana, uma tortura japonesa e agulhas sendo enfiadas dentro das unhas. As porradas. Os choques. Sangue.
Não sou um cara orgulhoso. É sério. Talvez eu seja apenas mais um cara triste. Só isso. Acontece que entre as muitas histórias, as crises existenciais em botecos filosofando e discutindo Sartre e tomando mais um whisky, os porres tântricos, as baladas ridículas em que eu fingia ter algum tipo de divertimento idiota, enquanto enchia a cara e xavecava as gurias com os amigos, as noites vazias, o sexo meio vazio com estranhas, amigas de amigos meus. Acontece que entre as Marias, Anas, Rosas, Joanas, Marias novamente, Marianas, Robertas, aconteceu a Daniela.
Aconteceu a Daniela, e depois dela vieram outras, eu não diria que muitas mais, nem tão desimportantes, mas nenhuma delas com aquelas sardinhas no ombro esquerdo, que já cheguei a comparar com a constelação de escorpião fazendo um sotaque francês meio bêbado, meio desengonçado ‘constellation du scorpion, mon amour’ totalmente apaixonado, doido doído. Nenhuma com os cabelos da nuca mais curtos do que o resto do cabelo, com um olhar claro, simples, objetivo e risonho. Aquele olhar de quem tem sempre uma piadinha sarcástica na ponta da língua, mas ao mesmo tempo sempre tem alguma coisa bacana pra dizer numa noite de domingo, quando tá tudo meio deprê ‘ que isso amor! não fica assim, a gente trabalha, a gente junta, e a gente se ama’. Mulher forte, sensível e doce com pitadas de ironia, uma das Valquírias de Odin. E aquela boca sempre minha. Sempre.
E como o bom escritor que não sou, tento agora por essas linhas meio falsas, meio ‘neo romantismo de merda’, esperando um outro trem passar enquanto eu penso que eu poderia ser menos sentimental, mais bom vivant fumar trepar trabalhar e viver, dizer um grande ‘foda-se’ pra tudo isso e simplesmente seguir em frente. Quem sabe até mudar o rumo, ir pra outra estação. Pra outro mundo.
É óbvio que eu estou com raiva. E estando com raiva, senhores, me disponho e uso todos os palavrões e caso houvesse palavra que descrevesse esse sentimento caótico de vazio, de raiva, de cólera mesmo! Um sentimento filhodaputa arregaçado de merda!!! Eu usaria. Eu usaria porque eu tive que me destruir, eu tive que matar uma parte de mim, apenas pra conseguir esquecê-la.
Eu tive que matar tudo aquilo o que me fez querer ter uma família algum dia, filhos, uma mulher apenas, sem amantes, juro! Tudo isso eu tive que mandar a merda, porque a única mulher que me fez pensar realmente nessas loucuras, simplesmente encontrou um outro amor e hoje em dia deve estar muito feliz, eu imagino que esteja, eu espero que esteja. Por favor, que esteja.
E a maior ironia disso é que eu não consegui mudar. Sempre fui um cara meio triste, sempre fui um cara meio romântico. Eu até consegui esquecer o bastante pra seguir em frente… mas cheguei aqui, onde os grafites do lado de lá do muro me fazem pensar em arte, e em alguma parte do meu cérebro, talvez no meio inconsciente, eu sei que tudo o que me lembrar arte, vai ter um pouquinho da Daniela, só um poquinho. Só o fato de que ela fazia desenhos na parede do nosso quarto, grandes olhos sem íris, e dizia que a vida fluía melhor vendo menos, sentindo mais. E claro que isso trazem outras lembranças, dos dias na praia com a família dela, dos restaurantes vegetarianos que ela queria experimentar mesmo não tendo a mínima vontade de se tornar uma daquelas vegetarianas paz e amor. O que me lembra aquele festival de rock no sítio do Cadu, com muita maconha, muita música boa, e amor na barraca da Dani. E uma lembrança traz a outra, como os vagões do trem estão trazendo essas lembranças. E mesmo lembrando com carinho, sobrando o carinho já é coisa demais.
Mas é isso, a sensação de que ‘um dos grandes amores da minha vida partiu, e eu tô aqui parado.’  Partiu. Não morreu. Tá viva. Tá diferente do que era, dizendo outras frases, vestindo outras máscaras, conhecendo outro tipo de gente. Tá em algum lugar vivendo feliz com outro homem, quem sabe até vai constituir família ter filhos cachorro uma casa da árvore. Os filhos dela, que não serão meus, os olhos dela em outros olhos, o sexo dela em outro. E tudo isso me deixa meio doido, meio puto, meio triste demais. E mesmo tendo encontrado outros amores depois, bons amores, juro(!), ainda fica a arte no lado de lá do muro, e esse medo de partir novamente. A vontade de ficar aqui olhando os trilhos do trem levando gente e trazendo gente, enquanto eu fumo mais um cigarro, na falta de um baseado e de algum amigo que me empurre de vez e fale: ‘vai em frente, seu merda, é só o que você pode fazer.’ É, eu sei, é muito cômodo ficar parado. É muito cômodo ser um cara triste.
Talvez eu simplesmente deva pegar o trem. Talvez eu tenha apenas que aprender a partir.

nas paredes

by beatnthink

Escrevi nas paredes recados para ioiô.
Fiz desenhos de ontem, anotações de cadernos, arte cubista impressionista expressionista.
Escrevi lembranças de viagens futuras, tatuagens nunca feitas, pedidos de desculpas e vontades.
Fiz homenagens à Oxum, à Ogum e à Iansã.
Escrevi vida e morte, fiz o yin e o yang, desenhei santos, deuses gregos, homens de fé, filósofos e moralista, fiz desenhos de círculos, mapas astrológicos, contas matemáticas de física quântica.
Reescrevi o calendário Maia, redescobri o Brasil, destruí o cimento, troquei tijolos de lugares.

Fiz recordação e saudade nas paredes.

poeira

by beatnthink

‘Será que o coração é só cósmica poeira?’
Natalia Mall

 

 

Acordando entre teias de aranha e palavras confusas pronunciadas de noite,

em meio ao caos. Em meio ao já nada que existia entre dois corpos

 

 

 

-Deveria ter voltado a dormir, naquele momento em que me dei conta de que virou pó.

Virou pó, assim como os sorrisos e os gestos e os abraços apertados demais para conseguir respirar

as caixas de madeira, cobertores de lã, fumaça de cigarro impregnando a casa

junto com os discos e os quadros da parede,

estampas da pop art, dos filmes cult que nada tinham de interessante sem o contexto de fumaça e vinho,

dos desenhos e frases de delicadeza

 

 

 

-Pó não, areia cósmica. Mínima molécula do que houve, e do que já não há.

As coisas mudam, e transmutam e se perdem,

em pó.

 

 

-Mas abre a janela e deixa o vento entrar,

quem sabe assim…

 

 

by beatnthink

Migrei para esse lado do globo. Joguei suas penas negras ao vento, porque já não tinham mais serventia e já não estavam grudadas a mim.
Passamos aves, finalmente, porque amor é isso.
Desejo o sol e o céu, tão bonitos, e tanta vida. Paz-felicidade e outras aves mais parecidas com você.

Só restaram as lembranças, são boas e ficarão até não ficarem mais.

Saravá.

cartas

by beatnthink

Ficou imaginando que talvez, seria melhor assim, em formato de cartas. Já tinha ouvido falar que é um bom lugar para colocar saudade, carinho, perfume. E por alguns anos se dedicou a contemplar sua vida em papéis. À Ana Caio Maria. Como um ritual, uma bossa, o lápis roçando o vestido branco, coração de papél. E como se estivesse perdida em um campo de folhas caídas – memórias do outono – alaranjadas, se via cega. nua e muda, dentro de suas próprias palavras. Mas ah, tinha um verdadeiro gosto pela simplicidade de suas cartas : Querida, te mando uma flor. Saudades.
E se era com mãos de violinista que as escrevia, era com braços de Capitu que ia guardando-as, todas. Ela nunca chegou a enviá-las. Guardava seus amores em gavetas, junto com as fotografias. E talvez seja essa a grande beleza que encontrava em escrevê-las. O ciclo inteiro, o descobrir o papél, uma lua de mel – e depois lacrá-lo. Esperar adquirir as primeiras marcas do tempo, e reler. Porque reler, era só o que restava depois de tudo.
O que me faz pensar, que essa personagem que espera no futuro se alimentar do passado, guardando resquícios, qualquer coisa que a faça lembrar de quem foi, de quem amou, de quem realmente tirou seu ar – Fôlegos vacilam – Talvez essa personagem seja uma das mais belas que apareceram pra mim até hoje. Dessas que sentam ao seu lado no banco do parque e pedem desculpa. Tímida? Não. Simplesmente humana. Sensível o bastante para entender que a liberdade vai até onde vai. E isso me faz acreditar, que talvez ela não tivesse mesmo, a coragem de receber uma resposta. De saber que sim, a outra pessoa tambem estava morrendo de saudades, de vontades, de. Aflorar os sentimentos e a sensibilidade de um poeta que sente de verdade, que sente em cada póro… é complicado. É devastador. E era de uma empatia, quase egoísta, esse sentimento de não querer prolongar.
Agora, preciso mesmo dizer, que sua última carta me surpreendeu. Não tinha destinatário, querido, querida. Não tinha um formato de carta. Aliás, pode-se dizer que era tudo, menos uma carta. Era mais uma melodia, um poema, uma essência. Uma noite nublada, arranha-céus pontiagudos à beira da estrada, na varanda, olhando pra cima. Era o sentir de moléculas, a sensibilidade da pele, do cabelo, da saliva. A carta era tão real, que era como se outra pessoa, um alguém, que podia ter muitos rostos, estivesse ali, olhando nos olhos dela. Multifacetada e viva.

Acho que olhos também se beijam.

De qualquer maneira, apesar da curiosidade alheia, eu não me sinto no direito de transcrever o conteúdo dela. Eu só espero que não seja a última de todas. Eu só desejo que existam mais pessoas no mundo que escrevam cartas. Espero que algumas mandem, outras guardem. E espero que as mesmas pessoas que escrevem, sejam desse tipo raro, dos que sentem felicidade ao sentar na grama, ao sentir as pequenas folhas no meio de seus dedos, cheiro de flor, e que se sentem unidos ao olhar pro Sol como o primeiro homem fez e como todos os outros um dia o fazem. Pois uma das únicas certezas que eu tenho em relação à tudo que aqui foi dito, é que só escrevemos cartas porque o amor existe.

 

Para não esquecer

by beatnthink

“A vida mais doce é não pensar em nada.”
Friedrich Nietzsche

Ficou marcado como tatuagem, ele bem podia notar. Uma mancha roxa, azul, esverdeada na sua pele. Como se alguém tivesse tentado socá-lo, assim por desprezo ou qualquer outro motivo banal. Um hematoma, pulsante, em formato de meio coração, uma lua talvez (?). Somente para que ele não esquecesse dos seus vícios boêmios, das noites de luxúria, da muita bebida, dos muitos cigarros, das muitas paranóias e pensamentos e histórias e vontades. Das muitas idas de botecos à bares até boates em uma infinita frênesi de se encontrar ali no meio, ou encontrar alguém cuja pele fosse boa e a cabeça menos oca.

Somente para que ele não se esquecesse que talvez fosse o único da sua espécie que não queria mais aquilo.

De que outro modo poderia viver?! Veja bem, que para alguém que nunca pôde ser amado e sempre se viu revoltado e impotente, essa constante busca era quase natural, quase humana, quase. A busca por outras manchas e as tentativas de suicídio-constante nas bordinhas da vida tal qual Toulouse- Lautrec depois da quarta decepção amorosa e do décimo oitavo copo de whisky. A vida, cada vez menos sentida depois de um tropeção. Isso se você esquecer de olhar para cima e ver que do ponto de vista:chão, o céu fica muito mais bonito.

Pois bem, ele não conseguia se lembrar de nada além do chão e das rachaduras no asfalto, dos mendigos dormindo em caixas de papelão, das baratas , do incômodo de nunca encontrar outros olhos, olhos de verdade, que encarassem. “De ressaca? Vá de ressaca…” – pensou, porque procurava alguma Capitu, alguma Colombina ou mesmo um Pierrot como ele, para trocar infortúnios e planejar explodir alguma coisa por aí.

Mas não. Só encontrava olhos que desviavam, olhos vidrados drogados. Olhos que não poderiam ver nada além de seus próprios olhos. Vesgos? Não. Desumanos. Olhos de indivíduos sem olhos, que preferiam não ver a ter que aceitar.  Olhos de seres que matam outros seres, porque não reconhecem no outro o simples bater de pálpebras. Mas ele cansou de pensar em olhos, cansou de pensar em qualquer coisa e se deparou novamente com a mancha em seu braço.

Merda, ele achou mesmo que poderia escondê-la com a manga da camisa de trabalho. Mas o hematoma latejava e doía e parecia mais uma ferida aberta, um tiro. Levantou a manga para conferir se aquela dor vinha mesmo de uma simples batida, coisa do momento, uma tentativa de não perder o controle, perdendo-o totalmente. Dos que entendem aquele clube singelo em que a loucura não passa de revolução.

Frases e músicas vinham à sua cabeça.  Começou a se lembrar de fragmentos que tanto gostava..  “Será que serei completo?Será que nunca ficarei contente? Será que não vou me libertar das suas regras rígidas? Será que não vou me libertar de sua arte inteligente? Será que não vou me libertar do pecado e do perfeccionismo…?” E cada vez mais se colocava dentro daquelas palavras de modo que elas eram SUAS, tão suas quanto de qualquer um que as entendesse.

MAS QUE BOSTA! –  disse em voz alta, assustando os funcionários das baias ao lado da sua, cujos olhos não, ele não poderia ver. – Eu não sou uma porra de um personagem de ficção e não há motivo para tudo isso. Ainda que haja motivo, o que eu poderia fazer? Ficar brincando de Tyler Durden não faz nenhum sentido. Olhou para o machucado novamente, com raiva, com nojo, com vontade de fazer um maior ainda, de socar outras pessoas e ver sangue escorrendo por aí…

Terminou o desenho gráfico que estava fazendo. Olhou para os lados… analisou o desenho novamente. Um grande pinto em um banner publicitário, ah, vai dar o que falar. Saiu de sua baia, não deu tchau para nínguem, já tinha terminado seu expediente…

“Foda-se, amanhã é sabado. E eu não trabalho.”

 

Feira do século XXI

by beatnthink

Vende-se camisetas do Che Guevara por 25 reais,

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Acabou de chegar esse ray-ban, super fashion, aviador, quadrado, estilo gatinho, arredondado estilo Lennon, novidade total demodê, vintáge.

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Vendemos boa música!

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Vende-se a contra-cultura, porque tudo é (r)vendável.

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Vendemos ideologia a preço de banana! Venha ter a sua!

Toda a Revolução, em caixinha, mais fácil de levar pra casa,

e ainda ganhe uma sacola reciclável!

Vende-se.

Se vende.